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Tudo isso não é vício
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Tudo isso não é vício
Tragou o charuto como o amador que era e sentiu a fumaça queimar-lhe os pequenos olhos castanhos e tomar os espaços daquilo que chamava corpo. A noite era uma imensidão sem fim, guiada pela valsa da lua prateada, cheia como o fiel copo exposto ao sereno. Deu outro trago com seus lábios fartos e a brasa fez tilintar pequenas fagulhas ao sabor do vento. O gole, quente, não combinava com o calor de um verão fora de época, amenizado apenas pelo sopro fresco de um anoitecer lúgubre. Sentiu o destilado de zimbro, diáfano como somente poderia ser, rasgar-lhe as entranhas e buscou com todas as forças definir o sabor daquele momento. Tangerina era a resposta das papilas confusas pelas cinzas que as cobria. A mão magra e branca parecia extensão do astro noturno; a face sardenta denotava a inocência por trás das olheiras, marcas da frequente insônia, com quem jogava xadrez quase todas as noites.
Sentiu seus pelos se arrepiarem ao toque da brisa notívaga e lembrou que a ausência da camisa raramente fazia falta nesses momentos. Chuva?, pensou rapidamente enquanto levava o charuto à boca. Não sabia se era bom ou pior. A dança provocada pela queima do tabaco, indecente e disforme, levou-o a outros mundos. Viu o teto de um branco descascado e imundo. Sentiu o cheiro de carniça que empesteava o recinto. Sentiu o peso corpóreo e a líquido quente escorrendo pelo seu rosto. Viu o olhar odioso, emanando um asco de origem desconhecida. Sentiu a saliva espessa atingir seus olhos e ouviu claramente o serrar dos dentes antes da demonstração vulgar de poder. E viu, como em terceira pessoa, seu rosto se distorcer ao som de biscoitos crocantes que um dia foram ossos se partindo.
Voltou a si nauseado. Culpou a ebriedade, mas se rendeu ao fundo do copo como um culpado infeliz de um crime que não cometeu. Imaginou-se marinheiro, não, capitão de um navio em meio ao pior cenário possível e se entregou aos desígnios de Morfeu ali mesmo, no chão, naufragado num mar de dejetos e acidez humana.
Sentiu seus pelos se arrepiarem ao toque da brisa notívaga e lembrou que a ausência da camisa raramente fazia falta nesses momentos. Chuva?, pensou rapidamente enquanto levava o charuto à boca. Não sabia se era bom ou pior. A dança provocada pela queima do tabaco, indecente e disforme, levou-o a outros mundos. Viu o teto de um branco descascado e imundo. Sentiu o cheiro de carniça que empesteava o recinto. Sentiu o peso corpóreo e a líquido quente escorrendo pelo seu rosto. Viu o olhar odioso, emanando um asco de origem desconhecida. Sentiu a saliva espessa atingir seus olhos e ouviu claramente o serrar dos dentes antes da demonstração vulgar de poder. E viu, como em terceira pessoa, seu rosto se distorcer ao som de biscoitos crocantes que um dia foram ossos se partindo.
Voltou a si nauseado. Culpou a ebriedade, mas se rendeu ao fundo do copo como um culpado infeliz de um crime que não cometeu. Imaginou-se marinheiro, não, capitão de um navio em meio ao pior cenário possível e se entregou aos desígnios de Morfeu ali mesmo, no chão, naufragado num mar de dejetos e acidez humana.
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